Os Protagonistas do SPE em Morada Nova

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7 de Setembro 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Abuso de álcool e dependência


Beber pode ser um ato de prazer e integração social. Estudos populacionais em indivíduos de meia-idade revelam vários efeitos positivos do consumo moderado do álcool. Para indivíduos com fatores de risco para infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (tabagismo, hipertensão, colesterol elevado etc.), sugere-se mesmo o consumo de dois cálices de vinho tinto para homens e um para mulheres que já tenham o hábito de ingerir bebidas alcoólicas. A sugestão visa a reduzir o risco destas complicações cardiovasculares.

Há, porém, uma grande diferença entre tomar um ou dois copos de cerveja ou vinho de vez em quando e beber, mesmo ocasionalmente, doses maiores. Pelo menos 25% dos brasileiros consomem bebida de modo exagerado, segundo estudo ainda inédito patrocinado pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). Afinal, quanto ou quando é demais?


Epidemiologia

O padrão de consumo de álcool tem aumentado no mundo ocidental e seu efeito negativo sobre a saúde é motivo de preocupação, especialmente por conta dos jovens, que bebem cada vez mais e mais cedo. De acordo com a última pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) entre estudantes do 1º e 2º graus de dez capitais brasileiras, as bebidas alcoólicas são consumidas por mais de 65% dos entrevistados. A incidência do alcoolismo é maior entre os mais jovens, especialmente na faixa etária dos 18 aos 29 anos.

A Secretaria Nacional Antidrogas divulgou dados de 2005, com base nos quais estima que 12,3% da população entre 12 e 65 anos pode ser considerada dependente de álcool. As principais causas de mortalidade entre adolescentes e adultos jovens (até 40 anos de idade) no Brasil são as externas (acidentes, homicídios, suicídios), que correspondem a até 65% do total. Qualquer dose de bebida alcoólica, por menor que seja, aumenta o risco de morte nessa população. E isso numa relação dose dependente, ou seja, quanto maior a dose, maior o risco.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, o álcool é responsável por cerca de 60% dos acidentes de trânsito (2006) e 70% das mortes violentas (laudos cadavéricos). Além de morte, violência e comportamento sexual irresponsável, o uso abusivo do álcool tornou-se um grande problema social, na medida em que provoca desintegração familiar, e econômico, como causa de acidentes de trabalho e desemprego.


Efeitos do álcool sobre a saúde

Mesmo sem dependência do álcool, o consumo freqüente e em doses excessivas de bebidas alcoólicas comprovadamente aumenta o risco de doenças do fígado (hepatite alcoólica e cirrose), pancreatite crônica, hipertensão, acidente vascular cerebral hemorrágico, transtornos do sono, depressão e câncer em vários órgãos.

O álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central e age sobre seis neurotransmissores. Seu consumo crônico acarreta mudanças estruturais no cérebro, inclusive redução do volume cerebral. Alterações neuroquímicas são responsáveis pelos quadros de blackout ou amnésia alcoólica, que podem acometer mesmo bebedores ocasionais e que caracterizam-se por amnésia que pode durar horas, sem perda de consciência da realidade.

Além dos efeitos de intoxicação aguda, o comportamento de beber grandes quantidades esporadicamente pode ser causa de alterações cognitivas permanentes, como deficiência em memória e aprendizado, tanto mais graves quanto mais jovem o indivíduo.


Dosagem de álcool

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o consumo de álcool como doença quando sua ingestão diária atinge 60 gramas (ver tabela 1 e quadro 2 para calcular a ingestão de álcool em gramas conforme o tipo de bebida). Em relação a cirrose, por exemplo, observou-se em alguns estudos que um homem deve beber em média 80 gramas de álcool (40 g para mulheres) por semana por 10 a 12 anos, para desenvolver a doença. Em outras avaliações, as doses foram menores.

Existem vários outros parâmetros. Em um deles, o bebedor pesado é o homem que ingere cinco ou mais drinques em um dia (ou quinze por semana) e a mulher que ingere quatro ou mais drinques em um dia (ou oito por semana). Esse hábito implica em risco aumentado para doenças relacionadas ao álcool.

Outra definição de beber exageradamente considera o consumo de cinco ou mais drinques consecutivos para homens e quatro para mulheres em pelo menos uma ocasião nas últimas duas semanas. Para outros, são aplicados estes mesmos parâmetros independente de tempo decorrido.

Para manter-se abaixo do limite legal de alcoolemia para dirigir, a ingestão de álcool média não deve ultrapassar dois copos de cerveja ou cálices de vinho ou uma dose de destilado (ver tabela 2).

Mesmo sendo importante a quantidade do álcool ingerido, variabilidades individuais (metabolização hepática, peso, idade, sexo) tornam este parâmetro muito variável. Sendo assim, para definir uma pessoa como consumidora abusiva de álcool ou dependente é mais significativo analisar o impacto do álcool em sua vida.


Abuso de álcool

Vários fatores (ambiente social, saúde emocional, predisposição genética) contribuem para que o uso de álcool se torne alcoolismo. As pessoas capazes de resistir ao efeito embriagante do álcool, estatisticamente, apresentam maior tendência a se tornarem dependentes.

O abuso é caracterizado por um padrão mal adaptado de uso do álcool que leva a um sério prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo. Segundo a Associação Psiquiátrica Americana para Abuso de Álcool, o doente deve manifestar um ou mais dos critérios abaixo em 12 meses.

- Uso recorrente do álcool resultando em fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa
- Uso recorrente do álcool em situações nas quais há perigo físico, por exemplo, quando se dirige um automóvel
- Problemas legais relacionados ao uso do álcool
- Persistência no uso da substância, apesar dos problemas sociais ou interpessoais recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos do álcool

Vários instrumentos padronizados e validados, como os questionários CAGE e AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) são úteis na identificação de consumo danoso de álcool.


Síndrome de Dependência Alcoólica

Critérios da Associação Psiquiátrica Americana para Dependência ao álcool:
- Tolerância (necessidade de doses cada vez maiores da droga para obter os mesmos efeitos das doses iniciais)
- Síndrome de abstinência
- A substância é freqüentemente usada em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o desejado
- Existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância
- Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância, na utilização da mesma ou a recuperação dos seus efeitos
- Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativos são abandonados em função do uso do álcool
- O uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente



Tratamento

Sendo observado um padrão de abuso de álcool, é desejável, além de reduzir a ingestão de álcool para limites seguros, avaliação especializada, visto que a prevalência de transtornos de ansiedade, depressivos e outros comportamentos abusivos parecem ser mais prevalentes nestes indivíduos. A negação e o receio de ser estigmatizado são os principais empecilhos em procurar auxílio.

O tratamento do alcoolismo passa por desintoxicação sob supervisão médica, para tratamento das manifestações da síndrome de abstinência do álcool e, a seguir, reabilitação, como psicoterapia ou grupos de apoio (Alcoólicos Anônimos), já que estes indivíduos não podem mais ingerir álcool. A associação de abordagem comportamental e farmacológica é o tratamento mais efetivo.

O acompanhamento destes pacientes mostra que são freqüentes múltiplos episódios de recaída até que se atinja abstinência definitiva.


Informações

O Viva Voz (0800 510 0015), serviço desenvolvido pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), é uma central telefônica aberta à população em geral, com orientações sobre drogas lícitas e ilícitas e, inclusive, informações sobre os recursos disponíveis na comunidade para quem precisa de tratamento. Visite o site.



Referências
- Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina. Associação Brasileira de Psiquiatria.Projeto Diretrizes : abuso e dependência do álcool: 2002.
- American Psychiatric Association (APA).Diagnostic and Stastistical Manual of MentalDisorders (DSM-IV). Washington: American Psychiatric Association,1994.
- Binge drinking, cognitive performance and mood in a population of young social drinkers.Alcohol Clin Exp Res. 2005; 29(3):317-25
- Helping Patients Who Drink Too Much: A Clinicians Guide From National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA ).
- http://www.hepcentro.com.br/alcoolismo.htm